Chovia, não uma chuvinha qualquer, uma chuvarada, daquelas que guarda chuva é enfeite mesmo. Mariana, Ana para alguns, Mari para outros, é uma garota normal, dois olhos, uma boca, pernas, braços, piercing em outros lugares, até pai e mãe tem. Normalíssima, assim como qualquer outra garota vivendo a plenitude de sua adolescência, pensam assim seus familiares, amigos, colegas de faculdade.
Mari, ou Ana, como você preferir, em tardes como essa, onde o mundo parece que vai acabar sem nem nos dar tempo de ganhar na mega-sena, terminar aquele livro que está pela metade, contar a verdade sobre a paixão há anos reprimida de colecionar figurinha do campeonato brasileiro, ela vai pra rua.
Tênis All Star preto cano longo, bermuda jeans surrada, camiseta do Corinthians, ela simplesmente sai, na chuva óbvio, os cabelos negros compridos grudam em sua face encobrindo o par de bolitas verdes de seu rosto, sua boca se abre num sorriso que parece engolir o mundo, ou ao menos todos os pingos possíveis. Pulando em sarjetas, correndo por entre a profusão de guarda-chuvas atraindo olhares espantados ela está radiante. As gotas pesadas se fundem ao seu corpo magro enquanto ela corre sem rumo, cruzando escolhas de vida sem olhar para os lados com uma certeza impassível que está no caminho, deixando em seu rastro todos os pensamentos que pesavam em seu corpo.
Ao chegar, encharcada depara-se com sua mãe, de toalha na mão já pensando na resposta padrão de Mari, ou Ana, em dias como este “esqueci de levar guarda-chuva...”.
plural (latim pluralis, -e) 1. [Gramática] Forma que indica mais que um. 2. Que contém vários ou se refere a vários. s. m. 3. [Gramática] Valor da categoria número que indica a quantidade mais de um. É isso que esse blog deseja ser, mais de um conteúdo!
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Paredes
O colchão macio afagando seu peito, a lua se derramando nas costas nuas. Vagando entre inconstantes pensamentos ouve um ruído estridente e constante. Deixa seus pensamentos de lado, guardados para depois e segue o som. O ouvido grudado na parede reconhece, é, com certeza, uma gaita de boca. Aquela melodia retoma a sua adolescência, quando embalada por Bob Dylan namorava. Curtiu o som por um tempo, retirou seus pensamentos da caixa e deitou-se disposta a encontrar o dono do som. Nos primeiros raios de som, estava ela no corredor do enorme prédio, as janelas voltadas para o interior permitem a visão do apartamento. Sorrisos, de uma velha senhora que não lhe pareceu muito apta a tocar gaita. Matando as horas no trabalho, o pensamento dominado por uma dúvida. A noite esgueirou-se até a janela vizinha, escuridão. Jogou seu corpo na cama e não tardou para o som penetrar em suas entranhas junto com a brisa que entrava pela janela. Sonhou com um rapaz, olhos azuis, forte, do tipo protetor, perdeu-se em pensamentos ao acordar, junto, à hora do serviço. Assim mesmo, atrasada, demorou-se no corredor. Sorrisos, os mesmos da manha anterior, que pareciam alheios ao que lhe cercava. Filho? Neto? Bisneto? Sobrinho? Pensamentos que lhe atormentaram durante o dia, a semana, o mês. Todos os dias, apenas sorrisos, ela já não retribuía, o sorriso parecia lhe afrontar. A gaita já parecia brincar com ela, a cada noite uma melodia diferente atormentava seu sono. Loiro, moreno, azul, verde, amarelo, gordo, baixo, careca, sem dente, todos que entravam no prédio eram suspeitos. Horas extras no escritório? Nem as via passar, obcecada. Num desses dias, ao voltar tarde encontrou a porta aberta, luz acessa, entrou, um vazio, apenas o corretor imobiliário conferindo o local. Seus tensos músculos agrediam a cama, viu a lua deitar, o sol levantar, na esperança de ouvir, nem que fosse por um minuto apenas a gaita tocar. Na semana seguinte arrumou suas malas, não podia mais suportar viver naquele lugar tão silencioso.
Tudo suspenso
a agonia da espera, o sinal abre o sinal fecha
cada segundo é um a menos na vida
a cidade aos pés não pára,
sem forças,
desiludido,
ele para
que caminho seguir senão o que está marcado a sua frente
viver neste ritmo alucinante
tenebroso, incerto
não querfalta-lhe coragem de quebrar as esquinas da vida
empacotar sonhos, envelopar o passado
batalhas vencidas, batalhas perdidas,
saber à hora de olhar pro lado,
abraçar novas perspectivas,
atirar pela janela o que não está certo
curtir a vida e não ser curtido por ela
quando a beleza de um pássaro na janela
não é suficiente para alegrar uma manhã azeda
o que será necessário então?
parar de procurar decepções em pensamento,
achar entendimento,
fazer, realizar, cantar,
dançar, sorrir.
cada segundo é um a menos na vida
a cidade aos pés não pára,
sem forças,
desiludido,
ele para
que caminho seguir senão o que está marcado a sua frente
viver neste ritmo alucinante
tenebroso, incerto
não querfalta-lhe coragem de quebrar as esquinas da vida
empacotar sonhos, envelopar o passado
batalhas vencidas, batalhas perdidas,
saber à hora de olhar pro lado,
abraçar novas perspectivas,
atirar pela janela o que não está certo
curtir a vida e não ser curtido por ela
quando a beleza de um pássaro na janela
não é suficiente para alegrar uma manhã azeda
o que será necessário então?
parar de procurar decepções em pensamento,
achar entendimento,
fazer, realizar, cantar,
dançar, sorrir.
Desapego
Desapego
A parede gelada do prédio o segurava ou era ele que com suas costas segurava o prédio. Os olhos distantes viam apenas vultos cruzando. Invisível a multidão que passava. Ostentado aparente bom trato e roupas finas alguém que o notasse poderia pensaria “Que inveja, esse tá com a vida ganha”. Porém, encravado ali no pé do arranha-céu, estava com o pensamento em alguns instantes antes, no topo do prédio que agora o segurava de pé. “Chega dessa vida! Vou voltar para fazenda”.
A parede gelada do prédio o segurava ou era ele que com suas costas segurava o prédio. Os olhos distantes viam apenas vultos cruzando. Invisível a multidão que passava. Ostentado aparente bom trato e roupas finas alguém que o notasse poderia pensaria “Que inveja, esse tá com a vida ganha”. Porém, encravado ali no pé do arranha-céu, estava com o pensamento em alguns instantes antes, no topo do prédio que agora o segurava de pé. “Chega dessa vida! Vou voltar para fazenda”.
Sexo
Sexo
Liguei, combinei algo simples, pão e café talvez. Sete horas em ponto, me garantiu. Preparei salmão, disseram ser afrodisíaco. Rosas na cama, vinho na mesa, incenso acesso. Coloquei lingerie preto, vestido curto insinuante e perfume sensual. Aguardei. Sete e um, capainha tocou, porta aberta, calção e chuteira.
Liguei, combinei algo simples, pão e café talvez. Sete horas em ponto, me garantiu. Preparei salmão, disseram ser afrodisíaco. Rosas na cama, vinho na mesa, incenso acesso. Coloquei lingerie preto, vestido curto insinuante e perfume sensual. Aguardei. Sete e um, capainha tocou, porta aberta, calção e chuteira.
Verdade
Verdade
Jornal re-lido, olhos vermelhos de espera. Camisa amarrotada, sorriso disfarçado de cansado. Chegou tarde, o aguardava sentada na cozinha. Chave da porta ainda na mão, a viu. Tentou começar falar, ela fez sinal que não, levantou da cadeira, deu as costas, ele bateu a porta ao sair. Palavras eram inúteis, ela já sabia a verdade.
Jornal re-lido, olhos vermelhos de espera. Camisa amarrotada, sorriso disfarçado de cansado. Chegou tarde, o aguardava sentada na cozinha. Chave da porta ainda na mão, a viu. Tentou começar falar, ela fez sinal que não, levantou da cadeira, deu as costas, ele bateu a porta ao sair. Palavras eram inúteis, ela já sabia a verdade.
Sobre o Manual de Tautologia
Textos de minha autoria que estão no "Manual de Tautologia" que integra a Coleção Caderno de Autoria que reúne experiências de escrita elaboradas nos cursos de Formação de Escritores do SESC Santa Catarina.
Obrigado ao SESC pelo incentivo.
Quem quiser este livro que reune textos de Briana K. Klaus, Cleci Bison, Édila Maria dos Santos, Gustavo Reginato, Karen Angélica Seitenfus Auler, Marcos Antônio Terras, Patrícia Galelli, Renata Fortes Gaertner e Tito Flores Ferraro ou o livro anterior "Objetos Embutidos" é so mandar um e-mail ou entra la no meu twitter.com/hercioneto que informo como fazer para adquiri-lo gratuitamente (sem contar o custo do correio claro).
No próximo post segue 3 dos 4 textos presentes no livro.
Obrigado ao SESC pelo incentivo.
Quem quiser este livro que reune textos de Briana K. Klaus, Cleci Bison, Édila Maria dos Santos, Gustavo Reginato, Karen Angélica Seitenfus Auler, Marcos Antônio Terras, Patrícia Galelli, Renata Fortes Gaertner e Tito Flores Ferraro ou o livro anterior "Objetos Embutidos" é so mandar um e-mail ou entra la no meu twitter.com/hercioneto que informo como fazer para adquiri-lo gratuitamente (sem contar o custo do correio claro).
No próximo post segue 3 dos 4 textos presentes no livro.
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