Gaveta Superior Direita
Os painéis de madeira escura dão o tom da parede contrastando com o amadeirado claro da porta, um tapete de pelos curtos cobre a extensão da sala. Esparsos pontos de luz dourada ampliam o brilho do copo de uísque sobre a mesa, o gelo já formara gotas de suor. Em ocasiões especiais gosta de sofisticação, abrira uma garrafa que há tempos aguardava por um. Disposta próxima a parede de entrada, a mesa cor de terra, grande e larga, deixa o ambiente carregado. Sobre ela adormecem alguns papéis, um notebook com a tela brilhando e ao lado um charuto consumindo-se em uma densa fumaça. Á frente uma cadeira preta recendendo a couro e salientando seus braços metalizados com o reflexo da tela, com as costas voltadas para a vasta janela, jaz seus pés no carpete. Doze passos as distanciam, espaço preenchido pela foto de uma viaje a qual não esquecera jamais, duas estantes, em uma, troféus que perderam o brilho para a poeira, diplomas e condecorações obtidas ao longo dos anos, a outra repleta de livros sedentos por uma atenção. Absorto em seus pensamentos, junto ao vidro, ereto, cabeça firme, mãos nos bolsos, olha fixamente sem ver para os pontos de luz brilhantes da cidade aos seus pés. A água que bate na janela distorce os reflexos do mar de cimento visto da cobertura traçando formas desconexas em seu rosto sem barba. Seus cabelos ligeiramente grisalhos não demonstram sua idade, o sapato lustroso e o terno preto impecável reforçam sua silhueta projetada na parede do fundo. Ao clarão de um relâmpago cortando o céu negro, ele lembra do conteúdo da gaveta superior direita.
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